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Afinal, um bom design gráfico e visual segue as tendências ou deve ser sempre único e original?
12/11/19
Afinal, o designer deve seguir as tendências ou deve propor novos paradigmas com designs mais inovadores? Depende do contexto onde o design está sendo praticado e de quem o pratica.
O design é uma linguagem, mas também é, essencialmente, uma práxis – uma atividade que depende fundamentalmente da prática. Nenhum design é feito como uma visão puramente conceitual desconectada da necessidade de estar se solucionando um problema, nesse caso não seria design, já que é intrínseco à atividade o mérito de que ela é uma práxis para solucionar problemas de interação do ser humano com o que está sendo projetado. O design existe, em essência, para isso: solucionar problemas de interação do ser humano com o que está sendo projetado.
Como linguagem, então, o design é parte do repertório cultural humano, o que o torna uma excelente ferramenta para propor novos paradigmas e estimular o repertório cultural da humanidade. Mas aí tem o outro lado: sendo também uma prática as circunstâncias em que cada problema de design está sendo solucionado se tornam parte fundamental das escolhas que o designer precisa fazer. Alguns problemas de design, goste ou não, não demandam, em certas circunstâncias, quebras de paradigma.
Vemos isso com muita constância no “conservadorismo” das soluções em design apresentadas por empresas que, comercialmente, lidam com públicos mais amplos (rótulos de produtos alimentícios e móveis para classe média são exemplos que me vêm à mente): não há excessiva quebra de paradigma e ousadia na linguagem porque essas empresas precisam vender para um espectro cultural muito diversificado de pessoas – a sobrevivência delas depende de designs mais familiares a muitos tipos de pessoas, então, fatalmente, a opção acaba sendo seguir as “tendências” com as quais os usuários estão acostumados.
Mas acredito que há espaço para inovação mesmo em designs mais “comerciais”: o repertório visual é muito amplo, então considero perfeitamente possível projetar peças menos conceituais mas que ainda assim explorem a linguagem de modos novos e interessantes, permitindo que, mesmo um design mais tradicional contribua na evolução da linguagem e enriqueça o repertório da sociedade.
Na identidade visual que criei para a rede de supermercados Covabra (2017 | Design Novarejo), por exemplo, o símbolo, uma letra C, recebeu um desenho arredondado, com ondas curvas que se encaixam e “montam” a letra com leveza e dinâmica. Mesmo sendo um visual mais limpo, a identidade visual criou um novo “repertório” no segmento ao incorporar elementos mais orgânicos e cores mais variadas, fugindo do visual mais sisudo que costuma caracterizar o segmento.
Mas penso sim que os melhores designers são aqueles que entendem que têm também um papel influenciador e vanguardista no repertório da sociedade e na atividade que praticam e buscam, com a devida prudência e maturidade profissional, as brechas (às vezes pequenas, às vezes maiores) que permitem solucionar corretamente os problemas de design com soluções mais originais e estimulantes. A diferenciação, num mundo cada vez mais saturado de informação, também é muito importante para criar designs visuais que sejam relevantes no meio da multidão de estímulos visuais.