01/03/19
Acabei de rever “Divertidamente”. Se a criatividade humana tem um limite, sem dúvida esse filme deve estar próximo disso. Chorei copiosamente (spoiler alert!) quando, quase no finalzinho, a menina chora de saudade da cidade que ela e a família tinham deixado pra trás. Abraçada no pai e na mãe, ela não segura a tristeza, e os três juntos encontram ali no amor de família a força pra continuar tocando a vida em outra cidade.
Não é emocionante? Daí eu pensei: nada disso existe. Essa menina não existe, essa família não existe, a saudade não existe. Tudo, absolutamente tudo ali foi criado por uma equipe de criativos e designers. Acredita? Eu fiquei emocionado porque alguém juntou um monte de shapes tridimensionais e os transformou numa menina meiga de 12 anos que chora de saudade da sua cidade natal!
Só eu que vejo o poder disso? Olha só: escrevo isso enquanto me desloco para sentar num computador e trabalhar no projeto de uma identidade visual. Não costumo carregar nada quando me desloco para o trabalho, nem mochila, nem bolsa. Minhas mãos estão vazias, estou só com a roupa do corpo, carteira e celular. Quando eu concluir esse projeto (como tantos outros que eu já concluí) um novo cliente terá um novo logo e uma nova linguagem. Uma essência, um propósito, um negócio, o sonho de alguém, o ganha-päo de um monte de gente, um empreendimento humano de tremendo potencial transformador: vou representar uma empresa inteira só com minhas ideias. Eu não preciso carregar nada comigo ou usar nenhuma matéria-prima ou insumo para que isso aconteça, só ideias, só preciso de mim, do meu pensamento e das minhas ideias.
Isto não é lindo? Assim como a menina de 12 anos do filme, uma criação pura, que saiu unicamente da cabeça de uma galera de gente criativa e emocionou um monte de gente, cada design que eu trabalho, cada design que cada designer desenvolve, cada criação que cada criativo cria, enfim, cada ideia criativa nascida da cabeça de alguém, tem o poder de gerar emoções. Cada logotipo que você cria, cada vinheta que você anima, cada cartãozinho de visita que você diagrama tem a mesma capacidade de transformar a emoção das pessoas que aquela menina de 12 anos que não existe no mundo real.
Você criativo, assim como eu, assim como a equipe da Pixar, assim como todo criativo que existe no mundo, pode, só com suas ideias, transformar as coisas, transformar as pessoas, trazer a humanidade pra frente. Suas ideias, só elas sozinhas, sem precisar de nenhuma matéria-prima, transformam o mundo e as pessoas, entende? Uma frase bem bolada criada em anúncio pode transformar a história de uma empresa. Um novo branding pode simbolizar um novo momento de uma mega corporação e unir as pessoas em um propósito. Aquele panfletinho mais bonito que você fez pode ter feito alguém pensar em gastar seu dinheiro ali naquele negócio, e ali fazer o mundo economicamente girar, andar, se transformar. Cada artezinha sua tem consequências no mundo e nas pessoas, consequências que, muitas vezes, você não vê, mas elas estão acontecendo. Você não está apenas criando um logo, você está transformando uma parte do mundo só com as suas ideias.
Então lembra disso: quando os problemas de um projeto parecerem complicados demais, não esqueça do poder transformador que suas ideias tem. Eu chorei por uma menina que não existe! A emoção que o seu trabalho gera leva a humanidade pra frente. E você só precisa de ideias. Isto é grande demais. Todo o resto é pequeno.